Janones é indiciado pela Polícia Federal
Janones é investigado pelas rachadinhas
BRASIL – A Polícia Federal (PF) indiciou o deputado federal André Janones (Avante-MG) por supostos crimes de corrupção, associação criminosa e peculato, no âmbito de uma investigação sobre uma suposta prática de “rachadinha” em seu gabinete na Câmara dos Deputados. Também foram indiciados Alisson Alves Camargos e Mário Celestino da Silva Júnior, ex-assessores do parlamentar. Janones, que já havia defendido a investigação como uma forma de provar sua inocência, ainda não se manifestou publicamente sobre o indiciamento. A reportagem busca contato com ele e os demais investigados.
A investigação conduzida pela Polícia Federal atribui a Janones o papel de “eixo central” de um suposto esquema de desvio de recursos públicos. Segundo a PF, a “conduta ilícita” do deputado teria começado no início de seu mandato. Entre as evidências citadas está um áudio gravado por um ex-assessor, Cefas Luiz Paulino, no qual Janones pede a devolução de parte dos valores pagos aos funcionários da Câmara. Janones reconheceu a veracidade da gravação, e a perícia confirmou que a voz é de fato dele.
O relatório da PF indica que a verificação do áudio já seria suficiente para a imputação de crime ao parlamentar, classificando o ato como um “delito formal e instantâneo” que se consuma com a solicitação de vantagem indevida. A investigação também identificou coautores e apresentou “fortes indícios” de que o crime teria sido consumado.
A análise da quebra de sigilo fiscal de Janones revelou uma variação patrimonial que a PF classificou como “a descoberto”, apontando uma diferença de R$ 64.414,12 em 2019 e R$ 86.118,06 em 2020. Entre os fatos apresentados no inquérito, estão despesas relacionadas a cartões de crédito fornecidos por Mário Celestino, um dos ex-assessores, que, segundo a PF, eram pagos por Mário sem qualquer ressarcimento. O inquérito também relata reembolsos solicitados à Câmara dos Deputados por despesas que teriam sido pagas pelo ex-assessor.
No caso de Alisson Alves Camargos, a PF alega que o ex-assessor sacava regularmente dinheiro logo após o recebimento de sua remuneração, em um padrão que, segundo a corporação, indicaria a prática de “rachadinha”. De acordo com o inquérito, Alisson teria sacado mais de 75% do total recebido da Câmara dos Deputados.
A representação contra Janones também foi analisada pela Câmara dos Deputados em um processo movido pelo Partido Liberal (PL) e relatado pelo deputado Guilherme Boulos (PSOL). O relator recomendou o arquivamento da representação, argumentando que não havia justa causa para o prosseguimento do caso, considerando que os fatos teriam ocorrido “antes do início do mandato” e que o “Judiciário faria seu trabalho” na investigação.
Até o momento, a Polícia Federal não conseguiu rastrear completamente o fluxo do dinheiro até a posse do deputado, mas aponta que as transações financeiras de seus ex-assessores levantam suspeitas, especialmente quando consideradas em conjunto com os áudios coletados durante a investigação. A PF concluiu que essas suspeitas, associadas aos outros elementos apurados, configuram fortes indícios de corrupção passiva.