Saúde

Vícios vão além das drogas e ameaçam saúde, economia e relações sociais

Especialistas alertam para o crescimento das dependências comportamentais e defendem políticas públicas baseadas em ciência e redução de danos

Por Dora Tupinambá

O vício deixou de ser um problema restrito ao consumo de drogas e álcool. Hoje, especialistas reconhecem que comportamentos cotidianos — como uso excessivo de redes sociais, jogos, compras, alimentação compulsiva, sexo e relacionamentos obsessivos — podem gerar o mesmo padrão de dependência que substâncias químicas, com impactos profundos na saúde mental, na economia e no convívio social.

Pesquisas indicam que cerca de 11% da população mundial apresenta algum tipo de vício comportamental, enquanto de 3% a 10% convivem com transtornos relacionados ao uso de substâncias em algum momento da vida. Estudos mostram ainda que 40% a 60% da predisposição à dependência é genética, mas fatores como traumas, histórico familiar, isolamento social e pressão econômica têm peso decisivo para o desenvolvimento desses quadros.

Como o cérebro responde ao vício

Segundo pesquisadores como Marc Potenza (Universidade de Yale) e Mark Griffiths (Universidade de Nottingham Trent), tanto as drogas quanto comportamentos compulsivos ativam os mesmos circuitos cerebrais ligados à recompensa e ao prazer imediato. Isso ajuda a explicar por que recaídas são tão comuns: o cérebro se adapta ao estímulo repetitivo, reduzindo o controle sobre a vontade e aumentando a necessidade de repetição do comportamento.

As consequências são amplas: além de doenças físicas e mentais, vícios estão associados à depressão, ansiedade, déficit de atenção, isolamento social e rupturas familiares. Casos de “amor obsessivo” e perseguição virtual, por exemplo, já são estudados por especialistas como manifestações de dependência capazes de gerar fadiga mental, ansiedade e dificuldade de concentração.

Peso econômico e social

Os custos são expressivos. Nos Estados Unidos, o abuso de substâncias gera mais de US$ 820 bilhões por ano em gastos com saúde, perdas de produtividade e sistema prisional. O alcoolismo, sozinho, representa cerca de 2,6% do PIB global, segundo a Organização Mundial da Saúde.

No caso dos vícios digitais, países como a Coreia do Sul já calcularam que os custos sociais relacionados ao vício em jogos chegam a 63% da receita gerada pelo setor, mostrando que parte do lucro da indústria é revertida em prejuízos à sociedade.

Como enfrentar o problema

O tratamento de vícios, químicos ou comportamentais, passa por abordagens semelhantes. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é apontada como uma das mais eficazes para ajudar o paciente a identificar gatilhos, reorganizar pensamentos e desenvolver hábitos mais saudáveis. Políticas públicas que combinam prevenção, tratamento e redução de danos também têm mostrado resultados positivos. Portugal, por exemplo, adotou a descriminalização do uso de drogas junto a programas de apoio e reduziu mortes e casos graves de dependência.

Especialistas alertam ainda para a necessidade de combater o estigma: grande parte das pessoas com transtornos de dependência não busca ajuda por vergonha ou medo de julgamento. Campanhas de conscientização, linguagem menos punitiva e serviços de saúde acessíveis são fundamentais para mudar esse cenário.

Um problema coletivo

Tratar o vício como questão de saúde pública e não como falha moral é o primeiro passo para reduzir seus impactos. Seja no consumo de substâncias ou em hábitos cotidianos aparentemente inofensivos, a dependência corrói famílias, fragiliza comunidades e sobrecarrega sistemas públicos.

Sem políticas integradas, o custo humano e econômico tende a crescer. Para especialistas, a sociedade precisa agir de forma coordenada, com ciência, empatia e educação, para que comportamentos comuns não se transformem em prisões invisíveis — silenciosas, mas devastadoras.

O tema deste artigo também será abordado por Lucas Laurence em suas redes sociais. Em vídeos publicados no TikTok, onde propõe uma reflexão profunda sobre os vícios invisíveis que afetam a saúde da alma e desestruturam lares, mostrando que a dependência vai muito além das drogas ilícitas. Acompanhe os conteúdos diretamente pelo link: tiktok.com/@lucaslaurensse e mergulhe nessa conversa necessária sobre cura, fé e responsabilidade coletiva.

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