Política

Pais de crianças com deficiência e autistas denunciam abandono e negligência em roda de conversa com deputado Amom Mandel

A falta de mediadores nas escolas, dificuldade de acesso a atendimentos especializados e negligência nos serviços de saúde foram alguns dos problemas mais citados pelos participantes

Em uma roda de conversa realizada na noite da última sexta-feira (20), o deputado federal Amom Mandel reuniu cerca de 200 mães, pais e responsáveis de crianças com deficiência (PCDs) e do espectro autista para ouvir as principais demandas desse público na cidade de Manaus. O encontro faz parte de uma série de ações de escuta ativa para construção de políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência e à inclusão.

Durante o evento, que contou com a participação de famílias de todas as zonas da cidade, foram relatadas situações graves de violações de direitos. As falas foram marcadas por relatos de dor, exaustão e indignação. Casos de crianças que estão fora da escola por falta de profissionais de apoio, famílias que enfrentam burocracia para conseguir tratamentos básicos e até situações de risco de vida, como o da dona de casa Ana Lúcia, mãe de uma menina traqueostomizada, que luta diariamente pela sobrevivência da filha.

“Nós somos esquecidos. E quem vive essa realidade sabe. Eu faço parte de um grupo de mais de 80 mães. A maioria cuida de crianças que dependem de traqueostomia, de alimentação por sonda, de atendimento constante. Só no mês passado, precisei correr duas vezes com minha filha para o pronto-socorro. E o mais próximo da nossa casa, o Delphina Aziz, praticamente não nos atende mais” desabafou Ana, ao lado de outras mães que enfrentam dramas semelhantes.

Desrespeito às leis

Um dos relatos que mais comoveram os presentes foram o de David Falcão e seu filho, David Júnior. O jovem, que é autista, sofreu um episódio de violência quando foi expulso de um ônibus quando ia para a escola no Distrito Industrial, por ocupar um assento preferencial a que ele tinha direito por ser autista.

“Não havia ninguém no assento preferencial. Eram cinco da manhã. Mesmo assim, o motorista simplesmente mandou meu filho descer. E esse não foi um episódio isolado. Ele já vinha sofrendo humilhações e, na escola, além do bullying dos colegas, também enfrenta piadas de professores. Uma vez, um docente usou o nome dele em uma ‘brincadeira’ sobre retardo mental durante uma aula. Isso é desumano”, relatou o pai.

O drama se estende à vida escolar. Durante meses, David Júnior frequentou a escola sem nenhum tipo de acompanhamento, até que, após pressão e denúncia acompanhada pelo gabinete do deputado Amom Mandel, conseguiu finalmente um mediador. Mas essa não é a realidade de muitas crianças. Diversos pais relataram que estão sendo obrigados a permanecer dentro da sala de aula junto com seus filhos para garantir que eles não sejam excluídos.

Ausência de especialistas e medicamentos em falta

O acesso à saúde é outro gargalo que revolta as famílias. A falta de neuropediatras, terapeutas ocupacionais, psicólogos e fonoaudiólogos impede diagnósticos precoces e compromete tratamentos essenciais. A falta de fraldas, de insumos hospitalares e de medicamentos controlados agrava ainda mais o quadro. Crianças com epilepsia, síndromes raras ou que dependem de aparelhos respiratórios vivem em estado de alerta permanente.

Compromisso com os mais vulneráveis

Ao longo do encontro, Amom ouviu cada relato, anotou as demandas e assumiu compromissos com as famílias. O deputado reforçou que já direcionou parte de suas emendas parlamentares para a saúde e para ações em benefício das pessoas com deficiência, mas reconheceu que os desafios estruturais são enormes e que falta prioridade por parte dos governos estadual e municipal.

“Eu sou deputado federal e tenho limitações orçamentárias e legais, mas isso não significa que vamos cruzar os braços. Já estamos atuando para pressionar a Prefeitura e o Governo do Estado. Estamos em contato com o Ministério Público e outras instituições para garantir que as leis sejam cumpridas e que essas crianças tenham seus direitos respeitados”, afirmou.

Amom também colocou seu gabinete à disposição para atender individualmente os casos mais urgentes, além de anunciar que pretende ampliar as ações de fiscalização, além de propor medidas legislativas voltadas à garantia dos direitos da pessoa com deficiência.

“Essa luta não é só de vocês. É nossa. Eu estou aqui como representante de vocês e, juntos, vamos transformar a dor em mobilização e mobilização em políticas públicas concretas”, concluiu.

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