Golpe do falso advogado usa engenharia social e tecnologia para enganar vítimas
Criminosos têm se aproveitado da publicidade de processos judiciais no Brasil para aplicar o chamado “golpe do falso advogado”. A fraude consiste em contatar clientes de escritórios de advocacia se passando por seus representantes, solicitando o pagamento de custas processuais ou honorários para a suposta liberação de valores de uma causa.
Em abril deste ano, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lançou campanha nacional e plataforma de verificação contra esse golpe. Na época já haviam por volta de seis mil denúncias espalhadas por todo o país. Na última quinta-feira (14) a OAB do Rio de Janeiro reforçou o combate ao golpe, que continua crescendo.
De acordo com Edivaldo Sartor, professor de cibersegurança da FIAP, a prática é facilitada pelo fato de a maior parte das informações processuais ser pública. “Basta acessar o site de um tribunal e pesquisar pelo nome da parte para obter dados básicos, como número do processo, nome do advogado e andamento. Essa publicidade é prevista em lei, mas cria um terreno fértil para criminosos”, afirma.
Em alguns casos, os golpistas têm acesso à íntegra dos autos, incluindo documentos e petições que não deveriam ser públicos. Segundo Sartor, isto pode indicar a participação de pessoas com acesso privilegiado, inclusive advogados. A legislação permite que qualquer profissional com registro ativo na OAB consulte processos completos, o que, embora legal, é apontado como um ponto vulnerável.
O professor explica que a automação é a principal tecnologia usada para selecionar vítimas: “É muito mais um golpe de engenharia social do que tecnológico. A tecnologia serve apenas para obter informações, o que não é difícil, já que são públicas”. De posse das informações, os criminosos criam perfis falsos no WhatsApp, com nome e foto do advogado verdadeiro, e abordam as vítimas com mensagens que simulam comunicações legítimas.
Para se proteger, Sartor recomenda adotar postura preventiva e desconfiar de qualquer contato inesperado. “Ao receber mensagens ou ligações, o ideal é interromper a conversa e confirmar por canais oficiais, como o telefone do escritório ou o número usado anteriormente pelo advogado”, orienta. Também é indicado que advogados estabeleçam protocolos claros de comunicação com clientes, incluindo códigos de autenticação para mensagens.
Quando o golpe é identificado, mesmo sem prejuízo financeiro, é importante registrar boletim de ocorrência para documentar o caso. Em situações em que há transferência de valores, a rapidez é essencial para tentar reverter a operação junto ao banco.
O professor reforça que a prevenção passa por informação e conscientização. “Em golpes de engenharia social, a melhor defesa é estar atento. A desconfiança pode ser a maior aliada da vítima em potencial”, conclui.